A frase “Todo ser humano é interesseiro!” em princípio pode trazer um certo desconforto durante uma conversa ou até mesmo chocar uma platéia, se dita de forma agressiva e sem maiores explicações. Porém basta mudar apenas o tom de voz, para que a mesma frase tenha um efeito diferente.
Você é uma pessoa interesseira!
Você é uma pessoa interesseira …
Você é uma pessoa interesseira 😀
Deu pra perceber a diferença no tom de voz? Claro que não, mas os acentos e o emoticon ajudaram um pouquinho, concorda?
Esse foi um tema que apresentei em formato de discurso no Toastmaster no dia 18/Maio/15. Só que a minha vantagem foi que lá eu pude falar a mesma frase, mudando apenas minha linguagem corporal.

Toastmaster
Agora imagine alguém vendo uma dessas frases numa mensagem de texto!
- – Se eu usar o ponto de exclamação, o leitor vai ficar uma fera e vai responder no ato! A resposta pode ter consequências desastrosas, porque vai desencadear uma série de desaforos;
- – Se eu usar reticências (aqueles 3 pontinhos), é provável que o leitor pense duas vezes antes de me responder.
- – Mas, se ao invés das reticências, eu escrever um “emoticon” como por exemplo uma carinha sorridente, a pessoa é capaz de adorar ter sido chamada de interesseira.
Existem também os casos em que apenas uma vírgula, pode evitar uma verdadeira tragédia. Um exemplo clássico disso é a frase:
“Matar o Rei não é crime” … Não?
Oh, quero dizer: “Matar o Rei não, é crime”!
Antigamente nossa comunicação verbal se limitava ao telefone ou pessoalmente. Agora, com as mensagens de texto, esses “crimes” estão revelando que na verdade nossa gramática precisa de ajuda urgente!
Mas voltando à afirmação inicial de que “Todo mundo é interesseiro”. O desconforto de quem ouve pode ir muito mais além da questão enfática. Tem a ver com o que nós admitimos internamente ser a razão pela qual nos aproximamos de alguém.
Ser interesseiro, via de regra, soa como um defeito, algo pejorativo, algo de que as pessoas devem fugir, e geralmente é associado a outros adjetivos tais como “falso”, “mentiroso”, etc. Mas na verdade, o interesseiro deveria ser visto como uma pessoa “verdadeira”, “genuína”, “franca”.
Ou não?
Eu, por exemplo, tento não perder tempo com pessoas que não me trazem algum tipo de benefício. Seja ele intelectual, mental ou moral. Prefiro me aproximar de pessoas que:
- abraçam causas humanitárias com as quais eu simpatizo ou contribuo, mesmo que elas tenham crenças, partidos políticos, ou sejam de times diferentes do meu. A propósito, eu torço pelo América, o que já é uma desvantagem quando quero atrair pessoas que são fanáticas por futebol.
- que gostam de usar o seu tempo livre para agir, arregaçar mangas e fazer algo em prol do seu semelhante e que dão prioridade a si próprias, porque senão não vão poder ajudar ninguém.
- que tem o que me ensinar nos assuntos que me fascinam ou que gostam de conversar sobre os mesmos assuntos.
- Que podem vir a ser parceiros num projeto de trabalho ou de estudo que seja benéfico para ambos.
- Pessoas mais velhas … Humm, é bem verdade que isso funcionava melhor quando eu era jovem. Ultimamente os mais velhos que eu nem sempre dizem coisa com coisa…::-)
E meus amigos? Qual o meu critério de escolha de amigos?
Bem, esse critério funcionava muito melhor antes do Facebook. Eu, como qualquer ser humano, tinha Amigos. Os que não eram Amigos, eram colegas de trabalho, colegas de escola, vizinhos, conhecidos, parentes, e naturalmente os inimigos. Inimigos que eu considerava como tal ou os que eu nem sabia que eram, mas existiam.
Mas ainda continuo achando que amigo é aquele com quem eu consigo pensar em voz alta. Fora isso, não é amigo … é “amigo de Facebook”. Ou a gente reinventa outra palavra que signifique o velho amigo pré era digital, ou o Facebook muda o termo. O que não pode continuar é, por exemplo, eu ter que explicar a alguém que quando digo: “Fulano é meu amigo …” e imediatamente elas dizem: “… mas eu não conheço …”, preciso esclarecer que aquele não é necessariamente um amigo, mas um amigo de Facebook.
Muito complicado tudo isso, rs.
É que hoje o Facebook meteu todo mundo num bolo só e ainda nos permitiu incluir outro grupo de pessoas nessa categoria: os que não conhecemos pessoalmente mas convidamos ou aceitamos o pedido de amizade porque temos INTERESSE em tê-las no nosso círculo de amizade. De novo, não me levem a mal… não vejo nada de errado em aceitar um pedido de amigo de uma manicure por exemplo, já pensando em que um dia talvez ela possa fazer a minha unha de graça ou bem baratinho e eu em troca possa oferecer algo que ela possa ter INTERESSE também.
Mas … e os inimigos? Quem tem absoluta certeza de que tem no seu círculo de amizades um Amigo que na verdade deveria ser considerado Inimigo ou Desafeto? Que Interesse eles tem em estar próximos de nós ou nós deles?
Essa resposta nós só vamos ter quando resolvermos ser menos românticos ou menos hipócritas e passarmos a não ter medo de dizer ou escrever nossas verdades, doe a quem doer.
Mas ainda vai demorar um pouco para que eu possa chegar a esse grau de perfeição, até porque não pretendo afastar de mim as pessoas que me interessam…
E você, o que pensa?