Minha história com o Rotary

by | May 22, 2017 | Histórias

Nasci no Rio de Janeiro, cresci no bairro da Piedade e vivi como qualquer outra criança de classe média baixa que, apesar de testemunhar as disparidades sociais à minha volta quase que diariamente, pensava que tudo era normal. Primeiro porque naquela época não havia TV na minha casa e muito menos permissão para ler os jornais. Na medida em que fui crescendo, comecei a perceber as diferenças e semelhanças entre classes sociais e comecei a fazer perguntas.

Meus pais adotivos respondiam que os problemas enfrentados por outras pessoas eram pura questão de mérito atribuído a desígnios divinos. Lembro que logo assim que terminei o ensino primário, fui retirada da escola para trabalhar para ajudar meus pais, e comecei a observar melhor o que estava acontecendo ao redor do mundo.

Minhas observações incluíam a leitura de toda e qualquer informação que eu conseguisse alcançar sobre aquelas pessoas e seus países. Percebi que não importava como, mas era possível sim que alguém pudesse ajudar outro alguém que estivesse do outro lado do globo. Mas eu era apenas uma menina de 13 anos e não conseguia cuidar nem mesmo de mim financeiramente, que dirá de outra pessoa num país distante.

Não demorou muito para eu perceber que a visão dos meus pais estava completamente distorcida. Quando me tornei adolescente, concluí que os problemas que eu notava no meu país também existiam em maiores proporções noutros países, sobretudo no continente africano, e que certamente eu não estava sozinha ao pensar que deveria haver alguma maneira de ajudá-los. Eu não aceitava que tamanhos problemas tivessem a ver com o merecimento de um povo, como meus pais tentaram me convencer.

Eu só não sabia como começar a fazer a diferença mas tinha lido a fábula do beija-flor e o incêndio na floresta e me identifiquei com aquele texto.

A primeira vez que ouvi sobre a vacina Sabin foi em meados dos anos 60. Eu já tinha perdido um amigo de infância alguns anos antes devido ao vírus da pólio, e as notícias sobre aquela vacina milagrosa chamaram a minha atenção. “2 gotinhas apenas?” … “E nem é injetável?” Pra mim era incrível e muito bom para ser verdade!

Mais tarde, aprendi sobre o trabalho e a dedicação de membros do Rotary Club no Brasil que ajudavam incansavelmente na divulgação de uma campanha e nos esforços de vacinação junto a outras autoridades locais da área de saúde. Mas eu nunca tive a chance de conhecer pessoalmente um único membro de qualquer clube local. Naquela época, na minha mente, o nome “Rotary” soava como uma espécie de clube de elite ao qual talvez eu nunca conseguiria me unir e com isso perdi a chance de me associar já naquela época.

Enquanto isso, o Brasil vivia uma ditadura (1964-1985) a qual já tinha mudado a vida de muitos brasileiros que acabaram emigrando em busca de melhores oportunidades. Foi a partir de 74 que eu comecei a ter uma vida profissional mais equilibrada financeiramente. Mas eu não me sentia confortável para ir a qualquer evento sem fins lucrativos que envolvesse doações. Era apenas uma questão de não confiar nas pessoas ou organizações que se aproximavam de mim de uma maneira ou de outra. A palavra “corrupção” já era uma realidade que fazia com que as pessoas do meu país desconfiassem de qualquer campanha que envolvesse arrecadação de dinheiro.

Felizmente em 1989 fui convidada a trabalhar para uma empresa sediada em New Jersey e me mudei para os Estados Unidos. Logo depois, quando mudei para a Flórida, aquela visão de criança começou a tomar forma. Comecei a ajudar algumas organizações, fazendo doações ou simplesmente voluntariando porém sem muito ativismo. Sem um foco humanitário mais globalizado. Ainda desconfiando de tudo e de todos.

Mas foi quando aceitei o convite de entrar para o para o Rotary Club of Boca Raton West, que percebi que finalmente iria realizar meu sonho de conseguir fazer a diferença. Afinal, ao tomar essa decisão, eu estava me associando a uma organização que hoje conta com 1,2 milhões de rotarianos espalhados por mais de 35.000 clubes ao redor do mundo.

Foi quando aprendi que o Rotary é muito mais do que um clube que ajuda pessoas pelo mundo inteiro a ministrar as 2 gotinhas da vacina que erradicaram a pólio em mais de 99% da população mundial, mas várias outras enfermidades.

Aprendi que não é apenas um clube que ajuda jovens a fazerem intercâmbio cultural. Aprendi também que cada dólar que é arrecadado através de contribuições de membros do clube ou várias doações, é duplicado, triplicado, quadruplicado em prol de programas humanitários e chega com certeza ao seu destino final, graças a um sistema implantado e funcionando há mais de 110 anos e que não permite desvios de qualquer natureza. Aprendi ainda que não há competição entre os clubes e sim o desejo genuíno e constante de firmar parcerias para fazer com que essas ajudas financeiras sejam arrecadadas rapidamente e os projetos aconteçam.

E é sem falsa modéstia que conto essa história para dizer da minha satisfação pessoal por ter sido escolhida como presidente do clube por 1 ano – de 01/Jul/17 a 30/Jun/18. Na festa da posse, que será no dia 29/Jun/17, espero contar com a presença maciça de amigos que ao comprar seus convites estarão indiretamente ajudando uma de nossas causas.

Espero que tanto a minha gestão quanto as subsequentes sejam coroadas de êxito na busca pela união entre profissionais e pessoas comuns que compartilham o mesmo desejo de fazer desse um mundo melhor.

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